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domingo, 25 de novembro de 2018

À espera da árvore



Vou dizendo para mim que quando chegar o dia de estar junto à árvore vou ter tempo para contar tudo, uma jornada tamanha há-de fazer-se palavras e nesse dia, o tempo será a medida do meu contar, os séculos da viagem serão folhas a encher para um abrigo da memória, uma copa larga que me acolherá. Talvez feche os olhos no esforço de lembrar tudo, ou mantenha fixo num horizonte a lamber feridas que não saram. E conto.

Por agora, vou dizendo que não tenho tempo, engano-me no adiar das visitas, porque de tanto ter para dizer não o digo. As palavras vão-se murmurando em silêncios, faço ponto final onde não devia terminar, tento esquecer para o dia em que diga que vou ter tempo, e o receio desse momento a aproximar-se paraliza-me a mão, o saber contar, hesito memórias. Para quando chegar o tempo de contar.

Digo-me que quando chegar o tempo talvez não haja tempo de contar tudo.
As folhas serão de Outono, amarelentas e queimadas, um sopro de vento a esconder palavras ou a fazer chão pisado, eu mesma a desconhecer o que plantei sento-me, cansada da viagem e deixo a árvore apenas ser uma árvore.



1 comentário:

Chellot disse...

Essa eterna mania ou costume de dizemos não ter tempo para as coisas da vida, um dia, quando tivermos tempo já será tarde demais para viver.

Gostei de sua árvore.

Abraços poéticos.