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segunda-feira, 21 de março de 2016

O telhado da noite


 
Anda comigo e deu a mão, não me deu tempo de recusar ou de pensar em desculpas delicadas mantendo-a a meu lado na companhia ou de dizer-lhe que esta noite é mais uma noite que não consigo dormir, a insónia visita-me ingrata e secamente sem conversas, planta-se ocupando espaço até se fartar e eu exausta de tanto desperta, ergo-me e vou.
Anda e na mão puxada, o braço esticado, levou-me até ao seu esconderijo ao alto trepado, perto da noite roçada na cabeça, o cabelo agitado pelo vento que de quando em vez aparece.
Sentamo-nos no telhado escorregadio a ver a cidade e o recorte do seu rosto na luz pouca surpreende-me tanto quanto o seu reaparecimento, o que me diz, o vestido branco e demasiado ousado na frescura e leveza do frio que sinto, a barriga ovalada que ampara e afaga, os silêncios que cortam o sentido das frases.
Teresa, digo o nome para mim, Teresa do Mar repito, mas parece que o som não lhe toca o reconhecimento do que é, segue apontando além o que não vejo, a outra mão dada a mim, sabes nem tudo é ido e nem tudo é de ficar, porque nem tudo é a vontade dos homens. Não percebo o que me diz, acho que me perco na beleza das palavras ou no momento em que trepámos para este telhado e o fascínio do perigo suspende o entendimento para ser digerido noutra hora, talvez numa em que a insónia se aproveite da minha fraqueza e a enxote ocupando-lhe o espaço com a beleza de Teresa.
Porque voltou não sei, desconheço se voltará outra vez mas as noites sem dormir têm custado menos.

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