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Dessa capacidade de mãos cheias, mãos a escaparem-se entre brechas de dedos a oferecerem-se do tudo e do todo que me preenchia e inundava afogando só encontrando alivio na segurança da caneta, muito parecia dádiva, entrega a outros que lendo, pediam mais ou criticavam, pediam ou surpreendiam-se pelo caudal, pediam mais e até exibiam menu a preceito.
Sem esforço correspondia, quase pedia que me pedissem sem eu ter que oferecer, sangrava-me do excesso que me consumia porque a verdade do céu da boca era tão egoísta quanto o prazer orgástico que me selava dentro de mim própria.
Não queria perturbações ou atendimentos a outras causas, as palavras perdiam-me mas achavam-me de novo num universo requintadamente diabólico, um fio invisível mas cortante. Não era eu e os outros de mim, sempre em mim habitantes, eram eu e os que amo, e também eu e eu.
Libertei-me do defeito, não das palavras.
Não totalmente, tenho recaídas por vezes. O verbo é tão solitário e exigente.
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(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Agosto 2014)
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