Sair de cabelo molhado para a rua ou andar de pé descalço em qualquer estação pela casa sempre foram pertences de mim como a pele que me cobre, mesmo havendo quem refira em tom de comentário jocoso - mas não se coibindo de o fazer - que a adolescência já me deixou e as doenças e a decência maior recato me obrigariam a outra condição. Convenhamos que exactamente por já não ser uma infanta os apartes me fatigam.
Mas também por gosto de sentir a temperatura fria e a dureza do chão contra a planta dos pés, pôr-me em meia-ponta sem a atrapalhação do calçado ou deixar que o ondulado do cabelo se forme à medida que o vento me bate no rosto ou prendo um pedaço escondido na orelha.
Ou simplesmente porque preciso de sentir o arrepiado da pele quando a reacção do corpo quente do banho se contrai na diferença da temperatura e no repente se acha num dia de Inverno ou vislumbro os pés deformados pelas sapatilhas arrumadas e o peito se aquece nos sons do velho piano martelado nas aulas de barra.
Porque de repente, muita coisa, mesmo muita coisa deixou de me tocar a pele. E sentir é preciso.
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