Na verdade ficam mais consternados eles do que eu quando lhes falo dos meus mortos. Não porque eu dê rumo à conversa nesse sentido mas de alguma maneira, uma e outra vez, inadvertidamente a curiosidade estala-lhes em forma de pergunta e pedem para saber. Eu não conduzo o tema mas também não o escondo, não sou dada a secretismos mas alguém me olha de véu posto e envolta em mistérios que eu própria - confesso - gostaria de ter nos atributos, mas não possuo tal arte.
Respondo-lhes com os meus mortos.
Um fascínio que lhes enche o peito.
Condói-me a falta de não os terem, o empréstimo alugado pelos instantes dos sentidos muito apurados em que o sofrer é tão intenso que me causa estranheza, a ausência do longe, das recordações, de pequenos nadas sem significado a esboroarem-se em cantos de gavetas, os sonhos e os pesadelos, a troca de memórias na leitura de recados meio apagados da tinta pelo tempo, nada possuem, nada condensam dentro de si para lhes doer como seu ou afagar como dor a passar.
Na verdade nunca visitei os meus mortos no cemitério ao contrário destes bons fiéis que levam flores, limpam o frio da pedra de insectos duros e folhas encarquilhadas, prometem a volta na semana seguinte ou no primeiro de Novembro.
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