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domingo, 25 de outubro de 2015

A [nossa] hora


 
Vieste desafiar-me, nem horas certas são, ultimamente parecias esquecido do teu papel, folheio o livro a parecer surda aos uivos cada vez mais próximo, tenho sido eu a recordar os nossos encontros, de mulher esqueço-me, habitualmente somos dois a correr ávidos da presa no cheiro ensanguentado dos pensamentos, derrubas-me a leitura mas hoje faço-me difícil, o pêlo molhado arrefece-me na vontade das pernas a partida disparada para te filar no cachaço da surpresa, revelações, a crueza da hora certa em que nos olhamos selvaticamente na expressão do que realmente somos, o que queremos, o que fraquejamos, o medo, a raiva de não abocanharmos um pedaço desejado, os sonhos, atacas-me a garganta, as presas fincadas a trazerem-me até ti. De novo. Sempre. A hora do lobo que se deita a meus pés enquanto me enrosco presa ao meu corpo como se regressasse ao corpo da minha mãe. Vejo-te ir silencioso. A minha mão entalada entre o livro a marcar páginas conta que um instante se passou, só as letras molhadas provam a tua presença.
 
 

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