O pé batido e a palavra secreta são do palco, esses ficaram na memória. Agora aguento outros palcos sem a praxe porque os aguento e mesmo de coreografia sabida na ponta da língua foi-se o encanto do prazer, demasiadas repetições sem a surpresa da composição inovadora. Mas a vida cravou-me a mania de outras superstições, tiques, cuidados que observo porque não arrisco passar sem eles, uma lembrança colada nas costas da mão a dizer não faças, não leves, não vás. Riem-se de mim. Deixá-los. Riem-se da minha aversão aos anos ímpares, à minha tendenciosa visão azarenta e à falta de sustento na explicação quando calo palavras. Bastava contar-lhes que todos me morreram nesses anos mas não quero, guardo-os no meu sofrer e entrego o riso à coincidência, dou-lhes as quintas-feiras do boi, dia dos meus mortos e das pérolas verdadeiramente frias que nunca ponho nesse dia em memória da voz que me trouxe a noticia da minha mãe, engulo as cores vermelhas que usava e o colar emprestado dela nesse dia e disfarço com um pé batido e uma palavra secreta. Danço num palco antigo e não há dor que me pegue.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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