É noite, mesmo que os candeeiros de rua brinquem com a memória da luz e as sombras se assustem consigo mesmas, vou descendo a ouvir os meus passos atrás de mim a empurrarem-me calçada abaixo, acendo a tradição no cigarro de paladar único até tocar as chaves de casa, fim de percurso, fim de horas, final da semana, como se isso importasse, daqui até ali vai um mundo e a labareda que alumia as mãos em concha para matar vício ou cumprir o ritual da boca faz parar quem me persegue, espera por mim e me conhece, talvez não se dê a estes hábitos ou então me peça do mesmo e hoje perde a vergonha,
- Tem um cigarro?
Tenho, mas não sou de dar ou até sou mas tenho de olhar nos olhos quem bate os tacões atrás dos meus e me imita e conforme a luz dos candeeiros lhe ilumine a cor, assim lhe cedo o meu fumo.
- Era o meu último.
É noite, um dos candeeiros cansou-se, a lâmpada fundida dorme e deixa que as sombras das árvores trabalhem, meia-dúzia de passos até casa, um último bafo, calco na ponta do pé a ponta incandescente e silenciosa do cigarro.
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