Mesmo antes da hora do almoço saíu a exclamação, onomatopeias de seguida, sinais de quem chama a si a atenção e à laia de Martini - muito agitado e muito batido - ouviu-se até o fôlego se esgotar o rol das noticias de sangue e tiros, a traição do vizinho, a queda do transeunte, a ineficácia de uma qualquer vacina.
Alguém ajudou ao cocktail acrescentando um exemplo familiar e foi uma festa.
Baixei os olhos e tentei a retirada, nestas coisas o contacto visual é um perigo, interceptaram-me os passos, tracei os braços ao peito e apertei os lábios.
Senti o cheiro de sândalo e a pele levemente ardida, depois um arrepio, os poros a fecharem-se como minúsculas cabeças de alfinete. Uma gota de água veio a deslizar desde o cabelo até à ponta do nariz e pendeu até aos joelhos. Se ficar aqui muito tempo vou ficar engelhada, a água fria, mas cheira a um dos meus aromas favoritos e o som da água para lá e para cá abranda o ruído de tudo o que não se quer.
Tranquilidade. Só. Apenas este murmúrio das mãos a dizerem que ainda estou. E sorrio.
Perguntam-me como posso sorrir quando estão a falar de coisas tão sérias como o cunhado de uma desconhecida que a matou com dois tiros e depois lhe deu uma martelada.
Não sei.
Apenas agradeço à minha loucura.
Agora vou almoçar.
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