Anda, diz-me agora se és capaz, o que me encostavas de palmas raivosas ao peito enquanto o gatilho das palavras nos acabava por cada vez que juntos enfrentávamos a mesma sala, não há coragem. Nem eu. Só te peço para me dizeres, porque não estás aqui e agora para as poderes repetir. Nem eu sei o que me deu de aqui regressar e erguer os olhos e enfrentar a transparência do que fomos. Afinal, não sobrou nada. Nem paredes, tão pouco um bocado da decência dos vidros a reflectirem a miragem das mãos dadas com que vínhamos cá para fora, lá dentro só a culpa do dedo apontado. Caíu tudo, se tu visses. Tanto me disseste que nada aguentou. Ou terei sido eu que consumi o ar e deitei um fósforo ao coração e ardi com a casa, que sei eu, dá pena. É ver o daninho das ervas a tomarem conta, serão o resto de nós, o que deixámos para trás, nem sobrou um bocado da cortina da janela que tu afastavas ao de leve quando eu te falava perto da orelha a dizer que íamos ficar aqui para sempre, felizes.
(in Portas & Janelas, Janeiro-2014)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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