Nunca se sentava naquele lado, não porque fosse o lado contrário ao lugar dela mas porque tinha receio, talvez mais respeito, sim era isso, um sentimento de respeito pelo que era dele e lhe pertencia, até imaginava que caso descuidada acabava sentada nas pernas dele, atabalhoadamente, quiçá a magoá-lo, não que isso - claro! - pudesse acontecer, homem fortíssimo era ele. Tinha sido. Já não era mais. Já não estava mais para ser mais forte ou frágil ou magoar-se ou sentir-se incomodado ou agarrá-la e abraçá-la fortemente sem ser com força mas como uma protecção, uma concha que a isolava de todas as coisas menos boas. Agora nada. Um lugar vazio. Um lugar vazio para onde ela olhava e vía sempre as pernas dele traçadas com a mão esquerda entalada entre o vinco das pernas, o sapato a balançar e o atacador com o laço muito perfeito sem desmanchar, como conseguia... E a voz, a voz que ressoava no encosto do sofá e vinha, vinha e ela sentía até ao seu lugar no lado oposto. Nunca se sentava naquele lado, há coisas que ficam marcadas para sempre, ali era o lugar dele e mais nada, as palavras dele a ressoar até virem a ela como abraços e a entrarem-lhe pelas costas, ainda lá estão, basta ela ver.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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