Uma dessas telas que se hospedam nas paredes choramingava coisa baixinha, noite dentro e o gato de vigia, cauda de cobra encantada de lá para cá a ver quando o salto lhe traría curioso satisfação no sossego ao sono enroscado.
Mas nem o bicho se ía e nem o quadro se calava e por mais que os pares deste comandassem o xiu à boca, a aguarela chorona insistia num borrão que se alastrava moldura abaixo e parede até ao solo.
E quando se assim se desmaiou, o gato bebeu-a tornando-se amarelo como o Sol.
Deve ter sido por isso que quando hoje saí e a chuva me bateu no rosto, quase a jeito de pancada levada pelo vento, vi as cores do mundo, acordada à vida. Lavadas. Sem a tristeza do ontem e reencontrada comigo, de mão apertada nos outros, a caír e a levantar, a enganar-me e a perdoar-me.
Sobretudo a perdoar-me porque mereço, porque este lugar da perfeição e da força que nunca quebra também fere, dói e sangra e arde como tudo. Embora eu negue.
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