Paraste o passo e libertaste o meu braço entrançado no teu, apontaste ao alto, aqui, eu olhei, confesso que não vi nada, tu olhavas-me sério à procura de reacção e eu pensei que alguma coisa me escapava pois se eu nada via, uma janela, ou uma porta envidraçada, vá lá saber-se, isso era o que eu via quando erguia a cabeça até me arder o pescoço e tu sempre a encarar-me como quem aguarda um clarão de descoberta maravilhosa e eu nada, estás à espera de alguém naquela janela atrevi-me, olha olha, repetiste e apertaste o meu braço que um minuto antes tão delicadamente tinhas desenroscado do teu, AI, mas olhei e que mais podía eu encontrar ali sem ser os vidros e uma moldura de mármore a enquadrar a janela maldita cravada numa parede lisa como um sabonete a estrear e furiosa pela dorzinha e pela minha cegueira, que coisa tinha que haver ali!!! e eu nada achava, nada via, que peguei numa pedrinha e arrematei num quadrado vidrado.
E então vi.
Círculos como os da água em que se lança um seixo, pequenas e simétricas ondas a confluírem num núcleo e a exibirem uma imagem de águas furtadas, empinadas sobre um rústico prédio de varandins de ferro forjado.
Olhei para ti, vês agora, abanei a cabeça, rodei na direcção contrária à da janela e um relvado aparado clareou o meu olhar.
(Portas & Janelas, Novembro-2013)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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