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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Pela mão dos outros



Eu. Eu que tanto tempo levei a resistir-me no uso da minha primeira pessoa e vai-se a ver gasta, que o que mais tenho sido é só ferramenta dos outros e até de tino perfeito, dito e afirmado, ainda assim convencida de que sou dona de vontades minhas.
Deixá-lo...
Mas hoje contrariada do caminho ido, mais uma vez, o Tejo a piscar-me o olho na partida da vida, mais uma vez, senti-me elevada por mãos iguais às minhas, tantas as que emprestei agarradas à caneta apertada entre dedos a desenhar palavras que vinham numa pressa perfeita, eu sem ser eu, outro de mim, um impulso que me tirou do chão e das aflições de não querer ir e me fez girar até fechar os olhos e sentir o ar adocicar-me a tontura leve de nada importar, de nada fazer diferença.
E quando me pousaram, devagar, sussurrando segredos que aqui não digo, ficaram ainda e por mais um momento comigo, a ponta dos dedos nos meus, uma linha contínua que não me deixa perder céu fora e desaparecer no silêncio.



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