Fidelizo o meu relógio à lusitana raíz e dou voltas à aritmética para acerto das horas em débito à cama, o corpo aguenta, as olheiras maquilham-se e no fundo é só um hábito, um treino, que horas são aqui nesta festa imparável, demoro no cálculo e o francês que me acompanha ainda mais lento, resolve a questão, déjeuner.
Não há hora de almoço, é sempre tempo de comer e brindar em Madrid.
Remoo se será por ser Maio, quero lembrar Maio de Lisboa à mesa e o odor do Tejo a vibrar nas palavras e a ondular toalhas brancas entre promessas violentas dedilhadas numa guitarra arrepiada, lembro-me de azul e apetece-me dizer baixinho coisas minhas para não esquecer.
Os meus companheiros tocam-me com o menu, falam-me em francês, faço o pedido em castelhano, o empregado sorri-me perfeito.
Há sons disco no ar, a minha guitarra estilhaça-se, segue a conversa de trabalho entre ponteiros que perdi em terras à beira-mar plantadas e os meus olhos procuram abrigo no azulejo do restaurante como âncora que conhece o fundo para se agarrar.
Maio/2014
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