Era tudo. E o tudo é tudo, é o amor, é o amor daquela coisa que não se sabe explicar porque é tão grande e secreta que se tem medo de dizer porque de um momento para o outro pode deixar de acontecer por ser tão maior e não caber nas palavras conhecidas para revelar o que se respira e adoça, e de uma certa forma, um pico amargo, uma dose certa que tempera o balanço e trava espevitando quando os olhos parecem cerrar-se na queda... Era tudo.
Era a correria das horas, o desespero das toiletes, a cor do baton, sem baton, sem perfume, o teu cheiro, o cheiro da rua, a escadinha miserável que roía os saltos de fetiche e mais as tonturas da curva, as curvas perdidas e achadas nas palmas dedilhadas à força da contraluz e da morte quase anunciada nas pancadas violentas quando o atraso cobarde das horas mordía os lábios do destino e revoltados nas costas desuníamos encontros.
Era tudo quando a porta se avistava, esguia, sentinela de segredos de dentro. A dar permissão a que a ela lhe dessem encosto, toque, a mão, a fome das mãos, o raspar lento das unhas junto ao rendilhado das confissões no erotismo da respiração a trespassar matéria, fusão.
Porta fechada. É tudo.
(Portas & Janelas, Setembro-2013)
Todas as fotografias da Colecção Portas & Janelas são da autoria de Eduardo Jorge Silva
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