Hoje fui maltratada, empurrada, virada para a parede sem direito a falar e com o gesto do indicador hirto encostado aos lábios e ponta do nariz, uma semiótica sem lugar no código da estrada mas universalmente conhecido pelo Vamos a calar ou na versão curta, Calou.
E eu calei.
Varri a sala com os olhos e apanhei os meus bocados, nem a raiva deixei por lá e as lágrimas que começavam a querer lavar o sujo do momento tratei de as economizar quando houvesse sede, engoli em seco, escutei a úlcera aos socos, espetei as unhas na palma da mão para desviar as atenções para outra dor, gastei o dinheiro no almoço que deitei para o lixo, repeti mudamente todas as asneiras do mais escabroso que conhecía e voei.
Atirei-me do primeiro ramo que balançadamente me serviu de trampolim e de braços abertos deixei-me ir ao sabor do vento, os cabelos desalinhados e a roupa enfunada, lá em baixo tudo pequeno, como sois pequenos e eu aqui, toma lá o meu sapato!
Sentei-me. Segundo round. É para cumprir, sem explicações. Eu cumpro. Mas têm de explicar. Que não consigo fazer nada sem explicações, pois é, eu sou do género complicadinha, tenho de perceber, depois podem mandar-me de novo para a parede. Mas explicadamente.
Mas qual é a duvida?! Dedo esticado ao longo do braço a apontar determinada direcção.
Decididamente, hoje não me deixam ser civilizada...
Ou será que querem o outro sapato?
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