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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Casablanca VII

 

 
 
É hoje. Depois do Sol queimar como ferros em brasa e sem perdão escutado, eu infiel por ter invadido esta terra onde fui chamada pelo grito longo e ondulado e mãos em concha nos ouvidos fingi a surdez dos que pensam que a ocidente sabe-se mais. Nada sei, vou mais cheia, atestada no peito, de bagagem raso a lei e ainda assim duvido de mim, da balança, do português que me acompanha e que almoçou bem a salada caesar. Não me lembro do que comi, terei almoçado, terei tomado alimento durante todo este tempo que aqui estive para além de flores e sementes e mel e este odor que me peganhenta nos olhos? Deixa o Sol perder a força, depois iremos. Não vejo o oásis.
 
Mas há um avião de papel.

 
 
 


 
O assento duro dormenta-me a realidade e torna-se dificil puxar as memórias para me fazerem companhia no ruído das vozes que tentam imitar coragem em espaço tão apertado. Quarenta dentro de um ovo de codorniz. Penso na minha mala sózinha na cauda do avião e nos pequenos bolinhos de recordação, nas mãos que os moldaram para os oferecerem à boca e palato dos que eu amo. Quero isolar-me nestas pontes de tempo e não consigo, os motores atordoam-me a roer as borrachas oferecidas com que entupo os tímpanos, quero voltar para o meu quarto de hotel e para as saudades de casa e da melodia do francês, quero fugir e avançar.
 
E chega luz da hora do lobo
 


 
 
Do meu tamanho, a minha paz. O meu mundo nas lágrimas secas que trouxe do outro lado. Sempre houve uma razão para a terra não me ouvir quando tanta pergunta lhe atirei e depois nas costas voltadas não me importei mais com o silêncio da devolução. Há chuva aqui, onde o Sol brilha como ferro que perfura no coração que parece estar morto.
 
Ilumina-me.
 
 
 
 
 
 
Senhores Passageiros, obrigado.
 
 
 

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