Acordei cedo mas ainda com sono, os olhos pesados de uma noite que se traz nos ombros doridos de não ter posição e só o dorso apetece ser a curva de tudo. Aprontei-me a tempo e a contragosto, nenhum apetite especial, nenhum brilho no dia, nada de contrariedades a confirmar a falta de vontade nas veias que me pedisse a volta ao inicio e justificasse a ausência aos compromissos.
Um dia parado pensei, e recordei sem razão ou objecto que aí me atirasse ou vista que mo lembrasse, dias de férias, longos dias de férias sem a prisão do vestuário, o corpo tisnado de tanto mar salgado a arranhar na pele e narizes besuntados de um creme branco e areais a perder de vista onde se corría até perder o ar.
Senti a veia debaixo da correia do relógio a pulsar.
E um silêncio profundo na cidade.
Eu e a cidade. Eu entalada numa fotografia onde quería ser eu. Livre, de novo inocente, ingénua, achada num areal onde a corrida era a maneira mais dificil de alcançar fosse o que fosse, os gritos eram o susto ao mar gigante e tudo podía ser desde que construído pelas mãos e a dizer-se faz de conta que.
Eu aprisionada em mim.
E corri. E a cidade moveu-se, e o trânsito arrancou e apitou, e as gentes andaram e falaram.
E eu ouvi o mar.
2 comentários:
Feliz por ter conseguido ler e comentar, neste blogue que é um dos meus-muitos-mais-que tudo. (Referenciado no mural do meu fb:-)
Aprisionadas, por vezes, porque nos trancamos (por) dentro de nós.
Outras, porque a solidão nos circunda.
(bela escrita, inconfundível, seja onde for que se encontre :-)
Olá AnaMar,
Porque não haverías de conseguir comentar?!
Mural do fb?
Não sei que hei-de dizer, o Facebook não me diz nada sinceramente.
Mas obrigado pela tua passagem e pela apreciação ao texto, que gostei.
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