Não sei se o procuro se é ele que procura ficar perto de mim, invariavelmente tropeçamos um no outro, encontramo-nos para tomar café, almoçamos sem previamente marcar, chocamos ao virar da esquina, escolhemos assento frente a frente em reuniões de amigos. Acabamos por não falar tudo, despedimo-nos com a promessa de contacto em breve para nunca cumprirmos, deixamos o destino ou as coincidências absurdas agarrar a agenda e tratar dessas questões. Partimos com a pontas dos dedos a tocarem e habitualmente não passamos de um beijo porque há sempre qualquer imprevisto que impede que o segundo beijo aconteça: ou se derrama um copo, ou um outro amigo aparece, ou passa um carro e quase me atropela, ou a velocidade de alguma noticia faz esquecer o acto.
Nunca falamos das suas mulheres.
Ou do seu convicto celibato.
Ou das pequenas manias que se tornaram um rigor.
Ou do facto de ter fugido do seu coração e por isso estar solteiro e por isso ser um maníaco. É tudo do mesmo.
E ainda do seu amigo inglês (que tenho para mim) que apesar de ser um pândego, é um grandessíssemo bêbado e que muitas vezes o desencaminha, mas a sua amizade e lealdade levá-lo-íam para além da vida.
Mas também nunca falamos que o estimo muitíssimo porque o deixaría envergonhado e que tenho muita honra em conhecer um homem de palavra porque já há poucos e outros poucos que ainda abrem a porta a uma senhora e ele pode esquecer o segundo beijo, mas essa cortesia não.
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