Já experimentou tantas vezes suster a respiração, foi aprendendo com os anos devagarinho mas nem mesmo crescendo abrandou o troar estúpido que lhe enche o peito e ecoa pelas paredes escorrendo em noites vazias que os olhos tardam a cansar-se da claridade mesmo fazendo muita força para os fechar, cerrar, apertar pestanas contra pestanas ou então sobressaltarem-se nos estalos súbitos da mobilia que sabe-se lá porquê, não deve ter aprendido a suster o ar dentro de si e nos soluços das ânsias, traiem a sua presença grotesca com uma espécie de arrôto de medo.
Onde será que a mobilia guarda o seu coração?
Já lho procurou quando a manhã aparece, mas à luz do dia tudo vai embora e nem mesmo os estalidos tristes se escutam para adivinhar uma vida por perto. Tão pouco na gaveta dos lenços onde guarda os cadernos das escrevinhações, as más escrevinhações, que num gesto de enfartamento podería a repulsa por tal alimento devolver com nojo e ruidosamente o que lhe havía forçado a esconder.
Não sabe.
Mas sente que a cada trovão do peito não está só, se da mobilia ou do soalho, se das paredes molhadas a escuro e claro e depois a manchas que não são nem uma ou outra mas um todo temeroso que a vai lambendo e apertando na dimensão do que quer assentar e não arranja sossego, talvez sonhos que pairem na busca do poiso certo e no custo dos olhos pregueados perdem-se de dono, revoltam-se.
Finalmente, e num impulso debruça-se e espreita. Os chinelos desalinhados dormem e só por isso não se assustam com uma cabeça pendurada.
1 comentário:
pensei que era este e até copiei o texto para responder devidamente. mas hoje vi que estava errado...
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