Mensagem sem título.
Se demorar alguns minutos o texto que não escrevi fica salvo. Está tudo branco e luminoso, fere os olhos, imperdoável, obriga a virar a cabeça como duas mãos que amparam o rosto e o fixam num objectivo.
O dedo mindinho apoia-se na tecla das maiúsculas, ficou este tique de um tempo em que as máquinas de escrever davam cabo do verniz e era preciso certeza para saber de cor onde se punham os dedos, o bom era não olhar as letras mas isso também vale agora e poupa-se imenso tempo.
Claro que isto é produtivo para quem não tem o meu problema de dislexia. Mas também é verdade que assim que salto, troco, engulo as sílabas, as palavras, por vezes quase toda uma frase que só escrevo na folha mental e se escapa ao tinto do desenho alguma coisa me diz que falhei.
Talvez o melhor fosse parar por aqui.
Ainda há tempo para não dizer nada sobre o que é escrever, escrever-me por dentro e por fora.
Nada escrever. Mensagem sem título e sem corpo de mensagem. Uma folha branca sem mancha.
Guardar agora. Publicar.
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