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sábado, 20 de setembro de 2008

Antes do dia nascer

Levantou-se.
Devagar.
Na ponta dos pés para não acordar o dia, meio estremunhado e preguiçoso, ainda ausente das suas obrigações. Afastou as cortinas e encarou a madrugada: fresco, cheiro de terra quente por dentro, húmida à face, fofa, permeável à chuva que nos primeiros ensaios não sabe como há-de caír, se de pingas grossas e constantes se disfarçada de borrifos mais iguais a pó. Há azul indigo no ar, um toldo que capeia o mundo.
O mundo é o que a mulher vê da sua janela e o que os olhos lhe permitem atingir. O que os olhos fechados inspiram ao absorver esta cor funda e triste para dentro de si e tão bem condizem com partidas e despedidas e promessas que se firmam com o propósito de se mentir por bem, pois sabe-se que nunca passarão de marcos a lembrar a hora de dizer adeus e apenas isso. É como uma condecoração que se espeta na carne do peito, no lado do coração, legendando a emoção partilhada, um sinal do tempo.
A mulher passa a mão sobre as suas medalhas, ao toque recorda cada palavra dada. Tem saudades. Não sabe que são saudades, sabe-lhe a tristeza, sabe-lhe a azul da madrugada, sabe-lhe a um tempo vagaroso pelos corredores da noite.
Os candeeiros de rua descansam da sua vigília.
O dia acordou.
A mulher tapa o rosto envolto nas cortinas brancas de gaze.
Devagar.

12 comentários:

marisa disse...

mais uma pequena pérola, querida Gasolina.
um beijo aqui de longe, embora continue sempre perto da tua preciosa árvore.

marisa

Gasolina disse...

Marisa,

(Sorrio e digo Marisa...)

Obrigado por estares sempre a cuidar de mim.


Um beijo imenso, maior que o Reno

Alecrim disse...

Eu não sei comentar estes teus textos bonitos. Faltam-me palavras à altura.
Mas também quero que sorrias quando pensas no meu nome, e queria perguntar-te porque anda o teu "bosque" tão silencioso.
Um beijo.

samuel disse...

Mas não adianta... a mulher vai ter que sair da gaze das cortinas e acordar, com o dia.

Abreijos

António Sabão disse...

Querida Gasolina, baixa que o petróleo já baixou! :) Hehehe

Beijinho grandolas

Gasolina disse...

Alecrim,

Doce e Lindo Alecrim.
Claro que sorrio sempre que penso em ti, como não?!

Respondendo-te: apenas falta de tempo, demasiadas coisas para tão pouco tempo. E agora ainda vou ficar com menos.
Em breve voltarei a calçar as sapatilhas. Por isso fica feliz por mim.

Um beijo, que eu não te esqueço.

Gasolina disse...

Samuel,

Pois, mas essa é que é a crise, Samuel.
Saír da casca e encarar o dia com toda a sua brutalidade.

Abreijos para ti também

Gasolina disse...

António,

Eheheheh!!!

Será que baixa mesmo?

Beijo para ti!

crise disse...

...mas a mulher calçará as suas sapatilhas e voará na música e, lá no alto, descobrirá que o mundo não é só o que se vê da sua janela.

Gasolina disse...

Tri,

Quero crer que sim.
Mas esse mundo abre-se também a coisas feias e pelo menos da janela só tem vistas bonitas.

Um beijo

ASPÁSIA disse...

FIQUEI COM A VISÃO DE UMA MULHER BONITA ESPERANDO O DIA ATRÁS DE UMA CORTINA DE SAUDADE...
QUANDO ELE CHEGOU, AS CORTINAS ABRIU E DEIXOU ENTRAR UM RAIO DE ESPERANÇA!

NESSE RAIO PODE IR TAMBÉM UM BEIJO MEU - ALÉM DE MUITAS COISAS QUE ELA DESEJA!

Gasolina disse...

ASPÁSIA,

O NASCER DO DIA PARECE SEMPRE TRAZER SAUDADE COM A MADRUGADA QUE SE DESPEDE. É AQUELA COISA INFINITAMENTE MAIOR QUE NÓS, QUE NOS ENCHE E MISTURA EMOÇÕES.

UM BEIJO JARDINEIRA.
HOJE HÁ SOL