Todos os textos são originais e propriedade exclusiva do autor, Gasolina (C.G.) in Árvore das Palavras. Não são permitidas cópias ou transcrições no todo ou/e em partes do seu conteúdo ou outras menções sem expressa autorização do proprietário.

sábado, 22 de março de 2008

O escritor



Impiedosa a folha que magoa na brancura a espera do que nada chega, nem tinta nem idéia, nem esforço que valha a pena o primeiro risco ensaiando a evolução de trilhos por onde se há-de caminhar até pôr os pés à porta de casa. Chama-lhe crise de identidade, branca do escritor, naufrágio de letras que as há mas a mão não consegue segurar uma que se prenda a outra até formar o cordão da frase que o leve até à margem (in)segura de gostar do que escreve.

Talvez amanhã a inspiração o visite e o diálogo traga nota mais sobre o mote a discorrer... mas amanhã já foi ontem e a aridez parece ter feito de todas as veias um sangue sem guelra. Espraia-se no desalento, quase dorme sobre o nada dito, embrulha-se em coisa batida como se inovado a sentisse para logo a seguir recordar a autoria.

Recorrentes, imagens do passado atravessam a passos largos a sala onde se debate, escondem-se, persegue-as de braços esticados por entre a penumbra da memória e a lucidez da dor, um beijo na boca de uma musa que o chama e desaparece, tropeça nos degraus que o levam até ao sotão que se atafulha de minusculas e reticentes perguntas que se empoeiram pelos tempos.

Entende... e até sorri, segura a caneta entre dedos, debruça-se. Aceita a janela aberta como entrada, espreita, remexe nas questões, compreende que na folha branca nem sempre haverão certezas mas inesgotável é a razão que o porquê interroga ao homem que escreve.

8 comentários:

suruka disse...

Gostei do texto

BOA PASCOA

BJ

Gasolina disse...

Suruka,

Obrigado.

Para ti também.

Vicktor Reis disse...

Querida Gasolina
Como descreves com sensibilidade a luta tremenda que o escritor tem consigo próprio no acto de criação.
Descrição tão bela somente poderá ser feita por quem snte no seu corpo e no seu espírito essa necessidade de juntar palavras dando-lhes sentido profundo.
Escreves, na realidade, com muita beleza e inspiração.
Te beijo.

Gasolina disse...

Victor,

Muito obrigado pelas tuas palavras.
Elogio demasiado para mim, que sou aprendiz de feiticeiro... mas com um sabor que muito aprecio vindas de ti.

Obrigado, Querido Victor.
Um beijo

Laura Ferreira disse...

de acordo. escreves bem, simples, puro, ao correr da pena e do coração.

marisa disse...

criar nunca é fácil, melhor, criar com qualidade não é fácil. por isso, como leitora agradeço (quase sempre em silêncio) constantemente a quem, como tu, o faz permitindo o nosso deleite. OBRIGADA!

marisa

Gasolina disse...

Laura,

Duas do que me dizes são-no: escrevo puro e de coração.
Do resto tento e esforço-me.

Muito obrigado.

Gasolina disse...

Marisa,

Aqui quem tem que agradecer sou eu, pela tua presença em pézinhos de lã, pelas tuas palavras gravadas na Árvore, pelo teu carinho e muito especialmente pela tua constante atenção e preocupação em (me) leres.

Muito Obrigado por "encheres" a Árvore de palavras.

Um beijo deste rio para o teu.