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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Travessias do Rio - 13



Estável, como uma plataforma de cimento, balanço algum que me recorde que é o cacilheiro, por dentro nauseio-me de mares onde se afundam à força as dores de saudade, prometo, já prometi antes de embarcar, que este hoje não passaria de uma poça de água, um rasgão de chuva esquecida à espera de sol para a levantar e desaparecer evaporada sem nunca ninguém ter dado por ela.
A freguesia segue morta como habitual a esta hora, uma criança tamborila os pés no assento e grita de dedo apontado a gaivota sentinela, o paquete de costas, o mar.
 
Qual mar?
 
Logo tu para incomodares o meu sentido de travessia a este rio que hoje, eu prometi já disse, não é mais que estrada de cimento, fecho os olhos e aperto os dentes na onda que cresce cada vez mais alto até engolir-me, é um mar sim. Desta dor maldita que não passa e finjo por não falar dela e até a mim me proibir, que não mata e não existe e há-de passar. Como a distância entre as duas margens um dia há-de acabar.
A mãe acena a cabeça sorrindo, compõe a criança no assento e repete, é o mar sim.
 
 

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