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segunda-feira, 2 de maio de 2016

O canto dos passos


 
Já procurei desenhar vários trilhos - imaginados e em vão - que me conduzam a alguns quilómetros para fora do perímetro onde se anicha a cachoeira, mas o ruído acaba por me perder do caminho inicial e serpenteio inevitavelmente repetindo-me, à volta das cadeiras desirmanadas das mesas, como um carrinho de uma pista em oito.
Já tentei também dar passos miúdos - reais e marcados - mas nem o barulho dos tacões consegue abafar a estridência do alto da água a despencar-se nesta bacia gigante, e vista de parte, direi eu mesma, depressa me internaría ou sería afastada dos demais por autismo profundo, já que o diminuto da área a percorrer limita bastante a exploração do espaço e é bom de adivinhar, de lá para cá, de cá para lá.
Resta-me assim o canto.
Cada vez mais amarrecado no empurrar das minhas costas na tentativa de fazer crescer paredes de cimento, conversas que escuto e às quais não posso fugir, não posso deixar de abanar a cabeça, nada de mim a acrescentar, a dar ou devolver, venho ao vicio dos passos esfumados e nem uma gaivota para um jogo de palavras trocadas entre beber e ter sede ou mais pobremente chover e chorar, um voo indiferente aos meus estados de corcunda e verticalidade.
Passo a perna pela frente da outra e enviuso-me.
 
 

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