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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Travessias do Rio - 9



Ao mudar a hora mais se encolheu a freguesia deste barco, enrijecem as remelas como protecções ao que os olhos temem adiante ver, sempre no erro de um mar que não existe, sempre acrescentando o superlativo de uma tragédia que receiam mas quase anseiam como actores e narradores, invenção que hão-de acrescentar como a maré a subir.
Não vêm nada, nem mesmo as janelas ainda de escuro pintadas lhes serviria de cousa alguma, entontecem-se da luz do Cacilheiro como borboletas atraídas, lá fora é o tempo da água a escorrer-lhes na impotência do domínio do que não seguram e a beleza do que não pretendem no momento sempre ocupados no contar das correrias, lá fora é só o tempo a que escaparam de si e dos seus pensamentos como casacos fortes junto ao pescoço, pesados e quentes e nem a hora rodada às avessas trouxe a lucidez de um riacho, um fiozinho marulhado em que manobram de sopro o jornal dobrado em barco de papel.

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