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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Quem chegou primeiro?




Da outra vez perguntaram se eu ainda dançava e eu respondi com palavras, com os olhos, com as imagens que o furacão da memória levantou na interrogação na ponta da frase.
Agora nem perguntou nada, ouvi os acordes e ergui-me, levantei os braços e deixei o corpo ondular, os pés deslizarem como se os sapatos fossem o prolongamento das pernas o soalho me comesse a carne dos pés.
Senti-os a olharem-me, os lábios a descolarem-se na surpresa, um quase sorriso, depois as mãos atrapalhadas junto à boca a taparem a convulsão da gargalhada e depois, sim depois, a vontade de virem, a vontade de gingarem, a vontade de levantarem os braços e ondularem o corpo e rirem despenteados, os sapatos no batuque do soalho.
Puxei um, uni os meus dedos às suas mãos nervosas e abracei a minha cintura junto ao seu corpo rodando, rimos, depois mais outro e neste trio estacámos junto a uma mulher apavorada que ofereci a minha mão livre. Aceitou, riu e passados alguns segundos todos na sala ríam.
Quem chegou primeiro?
O riso ou a pergunta?

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