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quinta-feira, 31 de março de 2016

Memória de uma ameia*


 
Debrucei-me na nesga da fotografia e ouvi-te distintamente, o Rio encolheu-se na superfície e engelhou a curva arrepiando a margem e até as mãos pousadas na ameia vibraram, a voz distintamente repito, era tua sem engano, não interessa que música alegravas na garganta aberta, o que importa é que a esta distância toda eu te sentía como se a água fosse bocado de mim e se deitasse até à tua porta para encurtar as saudades do tempo em que os dois no pátio da tua casa apontávamos ao lado daqui e desafiávamos o Castelo na secularidade da sua imponência ante o diálogo guerreado e imparável de estórias erguidas de heróis defendidos na invenção de autor, a última palavra era a morte, braçadas pelo Rio a salvar bandeira e tu agarrado à tua a desgarrares solos de heavy metal numa versão surrealista.
Segurei a fotografia nos olhos e se pudesse teria chorado até afogar a curva do Rio.
 
 
 
* Castelo de Almourol, próximo da Vila onde meu irmão morou. Fotografia de Eduardo Jorge Silva

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