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domingo, 13 de março de 2016

A pasta castanha


 
Não adianta fingir que ainda há noite para ser dormida, clarões em disparos vão e vêm como alarmes a impulsionar a vontade de erguer, ir, descobrir. Não me lembro se me lembro, por isso a pasta castanha tão bojuda como uma mulher prenhe deixa-me desconfiada e ansiosa pela falta de memória do seu recheio, aguada pelas mesmas razões.
Esventro o que é meu como se de outros segredos olhasse e nas páginas de muitos anos regresso a caminhos inversos: Descubro, vou, ergo-me. Há bréu em dias plenos com traçados perfeitos de nocturno em que a fisionomia dos que aí vivem se destaca da minha, porque eles são eles e eu sou visita das vielas deles, não nos mesclamos na simbiose de uma confusão de personagens em que tomo dores alheias ou deles se acha mão para me arrastar até vicio de esquina e por lá me perder.
Sem fingimentos, tudo na pasta castanha é violento, inchado, não que o seja pela crueldade mas pela crueza do sentir, do palpitar. Talvez por isso muito do verbo tenha aí ficado preso pela toxicidade da memória...
E no meio, algumas cartas. Muito belas, demasiado simples no seu dizer de saudades. Do Pai para a Mãe.
Clarões.

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