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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Prazer[eres] (sem explicação)


 
Ali, exactamente ali, podía desenhar a giz o sitio. Fazer um risco a todo o contorno, levantar-se e era como se ele lá estivesse. Ali. Deitado no quente, de lado, a cabeça sobre o cotovelo esquerdo, a perna do mesmo lado esticada e o pé morto ao abandono, a outra dobrada com o joelho a roçar o quente do soalho batido pelo sol sem se importar com as calças do fato que tanto trabalho tinham dado a vincar.
Ali exactamente onde passava a claridade do dia e enchía o quarto de luz, ficava tudo morno e ele descia ao chão e deitava-se como um bicho sem dizer nada a observar o vazio.
Um gosto que não tinha explicação e quando lhe perguntava porque fazia tal coisa sem se importar com a roupa, os modos, a idade, dizia hum, esfregava ao de leve o joelho dobrado na madeira quente do soalho e voltava a olhar o vazio, um ar de satisfeito, muito satisfeito.
Podía fazer-lhe o desenho do corpo a ocupar-lhe o lugar que lhe dava tanto prazer, mas um dia experimentei para saber o que sentía e não sei explicar. Talvez o morno, o quente, ou o cotovelo a amparar o rosto ou então o toque do joelho na madeira tão macio, não sei, talvez o sol no cabelo ou tudo. Ou apenas lembrar-me de coisas que nunca mais tinha lembrado, coisas sem importância sem me importar com nada, mas mesmo nada, mesmo estando vestida com roupa de fora. 

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