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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Travessias do Rio - 4


 
Cruzo os braços ao peito, traço as pernas, vejo o farol a distanciar-se, onde será que param aquelas fotografias que o meu pai tirou a mim e à minha mãe no Cacilheiro, eu a apontar na direcção de Lisboa, choramingona, a interrogação nos olhos da minha mãe a prender-me o vestido debruçada na amurada, mechas de cabelo a entrançar-se louro-escuro pela brisa, lembro-me que era Verão e o barco balouçava aberto e sem janelas, oleados enrolados a deixar as pingas do rio refrescar o corte do avanço no rumo ao outro lado, onde estarão as fotografias que não sei, do farol só um risco a prumo e ninguém vê nada aqui, podiam aparecer sereias ou baleias que era o mesmo de sempre, aponto ao homem que dorme ao meu lado o chapéu de chuva que desliza e vai caír, acorda no ruído da queda mas não me ouviu, fotografias a preto e branco, todos eles à minha vista e não sabem onde estão.
 
 
 
in Travessias do Rio, Outubro 2015

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