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Deixou de ter importância, sem eu ter notado quando, o incómodo das satisfações até perceberem quem era quem deixou de fazer sentido, simplesmente deixava como estava e que entendessem como quisessem. Porque de verdadeiramente especial era a companhia que nos fazíamos, que nos temos, a possibilidade de eu falar deles sem a cauda das explicações de personagens, heterónimos, desdobramentos de personalidade, era eu a falar com eles, a divergirmos na opinião ou a gostarmos similarmente do mesmo.
Esse prazer não era o brincar das crianças em que se segura o boneco pelas costas e imitando os passinhos se afina a voz para lhe parecer outro na boca, saíndo perguntas ou respostas à medida da evolução do diálogo enquanto se trocam roupas bonitas ou se servem chazinhos na companhia do urso de tom grave. Havía o caminho do conhecimento, a desconfiança natural de quem se chega ao outro sem nada saber e depois se aproxima e deixa ou não entrar no peito e instalar-se ou meramente fazer-se visita social, a discordância e algumas vezes sim, a ruptura.
Destes nada sei deles.
Por vezes ofende-me o que leio feito pelo uso das minhas mãos.
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(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Junho 2014)
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