Desacelero, o vicio do tempo apressa-me e confunde, afinal gasta-se mais rápido, corro atrás dos meus próprios passos e a sombra nunca há-de ser de outrem. Outros entraram no mesmo circuito que eu, enganamo-nos todos, não nos avistamos, passamos entre frestas de nós próprios evitando o confronto da palavra e o toque da vista.
Desacelero, abrando tanto o meu passo que quase me sinto projectada em câmara lenta. Corredores de gentes deslocam ar, levantam-me o cabelo, batem em mim, desta vez não ultrapassaram obstáculos, atrapalharam-se na surpresa do meu filme mudo, não me pedem desculpa, seguem caminho girando levemente a cabeça para me fitarem uma última vez, perdão digo, não devo desacelerar em hora de ponta, perdão digo, há quem não me veja e por isso não me desvio, desacelero mas sigo a direito.
Derrubam-me, caiem, erguem-se, seguem sacudidos e estremunhados e imediatamente compostos da aceleração para entrarem nos eixos. A minha sombra ajuda-me a levantar. É tarde, se correr ainda chego a tempo.
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