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terça-feira, 28 de julho de 2015

O céu da boca (Palavras Reencontradas) 10




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Como se não fosse suficiente os de fora, também os próximos me olhavam suspensos no meio-sorriso de quem duvida da verdade, da mentira, de uma invenção, cruelmente da sanidade mental, rebuscando reminiscências genéticas a parentes conhecidos ou até mesmo desconhecidos, mas de quem tinham ouvido falar.
Estava claro, tudo explicado.
A loucura é como os males de pele, difíceis de saber quando aparecem, porque aparecem, complicados de atinar na resolução e pelo exemplo, atacam gerações depois da 5ª.
Quiçá 15ª, pensei eu, humor que rapidamente troquei pela incredulidade, silêncios que ofereci pela boca fechada cheia de adjectivos de qualidade, maus confesso, a ignorância do tempo das bruxas a queimar-me a palma das mãos quando os punhos se cerraram segurando-se num e noutro a conter-se.
Mas a redenção chegou pelo alivio das estórias, uma e outra, gentes do meu sangue de quem eu nunca ouvira contar tais pormenores, e ainda as mesmas estórias em versões distintas, palavras desfiadas que recolhi de olhos arregalados e palato confortado.
O meu mal de pele tinha encontrado um unguento maravilhoso, uma banha da cobra que estes vendedores alardeavam para se venderem a si, mas quem lucrava com os seus devaneios era eu, apenas eu.



(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Maio 2014)

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