Noite, dia, noite, noite, vou riscando traços no caderno à medida das travessias vencidas ou ganhas. Não sei se por ti é prémio atingido no pé tocado ao cais.
A vontade de me voltar e adentrar-te é quase sempre, resisto, entendo tão bem estes poisos camuflados de segurança, gentes de braço ao alto a dizerem adeus que nunca sabemos a quem e do outro lado alguém a acenar para outrém que não enxergam.
Tenho dias que estou certa de caminhar sobre a água.
Uma leveza no outro lado é o bastante para te atravessar, nada me afundará e tão pouco os cais balouçando distraídos no mareado do teu humor me farão suspeitar de acenos na fragilidade da saudade, da cegueira da dor, dos dias e noites e outra vez noites e traços riscados em cadernos contados de estórias sobre um Rio egoísta de belo.
Olho-te e no final de mais um risco, manso, mancho a noite no meu dedo azul.
Até amanhã meu amor.
(in Olhar com Vista sobre o Rio, 2012)
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