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domingo, 29 de março de 2015

Animal



Sem questões mundanas ou preocupações dedicadas a poupanças de hora transfigurada eles tranquilos porém vigilantes, mantém-se aninhados nas concavidades que de alguma forma sempre conseguem fabricar, desconheço como mesmo que já tenha passado horas e horas a observar os seus hábitos e a maior parte da minha vida partilhei-a na convivência intima com eles, e isto de privacidade vai até ao dormirmos todos no mesmo leito, ao extremo de eles bem acomodados e eu dorida e com caimbras de encolhida ou pelo peso que parecendo pouco acaba por ser dose e sem roupa para me cobrir.
Ei-los. A olharem-me. Quem disser que é pateta da minha parte dizer que esperavam que eu abrisse os olhos para me olharem com ar condenatório por só agora acordar vai levar com a almofada...
Não se mexem, um único músculo se retesa, apenas os bigodes vibram, o cão mais exuberante claro, agita a cauda felpuda e espeta as orelhas, sei que se movimentar os lábios mesmo que o faça sem som se erguem e vêm até mim, apetece-me desafiá-los e ao mesmo tempo, uma moleza paralisante imobiliza-me toda.
Se mostrar um dedo ao alto os gatos espreguiçam-se, as caudas esticam-se e hão-de caminhar até ao meu rosto como duas borlas gordas de pó-de-arroz para me empoar, o cão virá patudo e desajeitado, um gigante a pisar tudo que só quer chegar perto e pingar amor o mais rápido que todos, eu gemo e rio, encolho-me ao passarem-me por cima, as cócegas, tento esconder-me sob a roupa e eu animal, outra pele, outro pêlo, serei uma igual desta matilha.

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