Escondo as mãos nos bolsos não porque tenha frio mas porque desta forma abafo o relógio que se enforca ao pulso esquerdo e à direita a vontade de o salvar, balouço os calcanhares para disfarçar a sua pouca importância e dou os primeiros passos a caminho da beirada do terraço, o Sol a brincar com a ponta do nariz e a distrair olhos numa e noutra gaivota enganadas de água mais longe, por aqui só planos de cimento e alguns carros, estacionamentos perto do céu a meias com fumadores escorraçados que fingem o vicio no pé encostado a uma parede que se diverte de branco muito sujo pelas solas marcadas.
Faço caretas ao rio avistado vestido de prata, [como és belo] a margem tão próxima como a ilusão do oásis, troco o chumbo do cimento pelo dourado da areia e engulo em seco, falta-me a água a ambas, uma sede do não ter seja lá o que for, seja lá quem não está comigo neste momento, que difícil é pedir socorro quando tudo nos grita para dentro.
Dissolvo o momento, uma nuvem oblitera os raios de sol, alguém me pede lume e eu lembro-me do relógio.
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