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Perguntavam-me então se o fazia num estado de alma, uma demonstração do que me ía cá dentro e a revelação dos eus mais não era do que espelhos a projectarem reflexos (mal) acondicionados do que muito provavelmente o meu racional arrumava. Assim entendia-se uma normalidade para as lides quotidianas e a convivência estreita entre mim e os demais de mim tão perfeita estava explicada.
Não sabía o que dizer.
De perfeito era o mais imperfeito, na verdade um caos, na verdade escrever nunca foi um estado de alma, sê-lo-á e não sei mas deito-me a adivinhar, para os outros, que para mim nunca tive muito essa coisa de falar do meu privado, aquela coisinha mesmo intima sempre a escondi mesmo fundo dentro de mim e nunca tive a necessidade de partilha do segredo, a escrevedura chegava como o ar a precisar de ser inalado e a partir daí a descoberta do que havia para além da sobrevivência. Mas nada de estados de alegria ou pesar como fundamento para o verbo, esses serão talvez o fruto dos que convivem comigo.
Mas nem sempre bem, nem sempre mal. Como toda a gente.
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(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Abril 2014)
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(in O céu da boca (Palavras Reencontradas), Abril 2014)
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