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domingo, 7 de dezembro de 2014

Declinações numa manhã de Domingo



Rosa, rosae, rosarum, porque me lembro disto agora?
Abro os olhos com o som da vizinha a ter a conversa do costume com um José invisível, ela a sacudir panos, ele recolhido que nunca ninguém o viu, professora reformada já mo contou e nem os vidros duplos isolam a ladainha sobre uma terceira pessoa a quem sempre se refere. O som estridente do CD significa que o rapaz está a lavar o carro, é hábito fazê-lo nesta manhã, do jardim faz o rescaldo das noites, batidas repetitivas, por vezes acerta com o ritmo do meu coração, doutras não, quando o miúdo do triciclo lhe dispara a campainha ou chegam os futebolistas de palmo e meio a fazer golos às portas das garagens, gritos de aviso sobre estragos, vivas dos pais ou buzinadelas de quem quer saír. Depois há os cães e os donos dos cães, e o ladrar alegre das corridas e o assobio e o chamamento incessante que não serve de nada e há também as bulhas.
A vizinha de cima levantou-se agora e anda de tacões, martela no sobrado apressada como quem esteve na cama até à última. Algures, um homem e uma mulher discutem. Vejo as horas, fecho os olhos mas sinto a claridade perpassar as cortinas admirada.
Rosa, rosae, rosarum, há coisas que nunca se esquecem mesmo que tenham sido há um século.
 
 

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