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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Colher (Detalhes)




Cada detalhe torna-se uma paisagem imensa, os defeitos são a perfeição da beleza que distinguem o cunho da originalidade, únicos e singulares, uma assinatura do seu autor ou do seu portador.
Recolho tudo ou o mais que posso pois tanto mais que observo mais ainda descubro, e estes pormenores tornam-se gigantes pela sua riqueza de jóias com que enfeitam o geral, a não constarem na sua reduzida e quase despercebida existência meros espaços de ocupação seriam.
Mas onde me perco e devaneio é nas gentes, pelo comum homem que se cruza comigo cirandando na biblioteca ou pela mulher que sentou na mesa próxima no restaurante. Os sinais peculiares que os marcam como indivíduos como o toque dos dedos nos objectos ou a forma como os cílios se encostam para se defenderem da luz, de palavras menos boas ou até afagarem-se de outras tantas mas suaves, o beiço húmido. Ou então, naturezas mais agressivas como uma nariz adunco, um mancar, uma verruga perdida no rosto ou no pescoço, orelhas assimétricas.
Colho pesada cada detalhe, na maior parte das vezes sem o intuito da intenção, uma acção inata que me enche um saco invisível e que me desperta depois, imagens em clarões tão nítidos que os pareço conhecer desde sempre.

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