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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Pendurar



 
Já fez tudo. Está tudo em ordem. Talvez se sente para afrouxar o peso das pernas que logo mais para a noite hão-de inchar, sabe-o, não lhe apetece mas não tem jeito ficar especada no meio da sala à espera, imóvel, como se fosse um adereço a mais fora de enquadramento no mobiliário e afinal está tudo pronto. Em ordem. Senta-se.
 
Traça os dedos uns nos outros e a grade formada recorda-lhe que tivera mãos bonitas. Não se lembra quando nem lhe apetece fazer contas de andar para trás à procura desse tempo, desprende os dedos, passa as palmas pelo cabelo alisando-o, traça os braços, esconde as mãos sob os sovacos, suspira.
 
Lá fora caiu a última folha que se pendurava na árvore. Já estava castanha e rija, desceu do ramo num movimento de hélice e espalmou-se na calçada.
 
Ela dentro de casa ouviu um estrondo, levantou-se e espreitou pela janela. Não viu nada. Apenas reparou que a árvore em frente finalmente estava despida. De resto tudo em ordem. Voltou a sentar-se, as mãos debaixo das coxas.
 
Agora era esperar que os miúdos chegassem para voltar à vida, só esperar.

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