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domingo, 30 de novembro de 2014

Aconchego



 
Mal a oportunidade se achou corri, corri muito, o matagal de silvas e outras ervas altas a abrirem-se para me atalharem caminho às pernas, o pensamento mais rápido, um a puxar pelo outro, peso de verbo que acarto e me atrasa na chegada, por onde começar a contar tudo, tanto sem me atrapalhar ou engasgar com cuspos e pontuações ou falta de ar pela correria que agora faço para chegar à árvore, mudanças de tempo em passado e no agora, ei-la!
 
A clareira ao redor impõe respeito.
Tento suster o ímpeto da vontade de a abraçar e de lhe contar tudo mas estou ofegante, o coração acelerado e as mãos cheias de palavras que andei a engolir, nunca as escrevi por estes dias, bebia um gole de água e tomava-as como um remédio que depressa me embriagou até se tornar um veneno nas veias.
Caminho, passos lentos, o tronco forte e rugoso perto, o cheiro típico, húmido, acre e invernoso dos líquenes parasitas que vêm sugar-lhe vida e enfeitar na ausência das folhas. Toco, sinto-lhe a aspereza, encosto a face e conto-lhe da falta que me fez.
 
Aconchega-me, pede que lhe dê as palavras do meu alivio e na morna e suave doçura das páginas brancas do meu caderno a seiva invisível das raízes pinta-se em letras no todo que trago para lhe oferecer.


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