Nada me falta, os objectos de culto à mão favorecem-me a vontade, abro o caderno na 1ª página, é hábito, folheio sem pressa até chegar à folha branca, vão-me ficando agarrados na ponta dos dedos alguns pedaços de azul-china de palavras que teimosamente querem hoje ver a luz repetida, não as quero pensar mas penso nele que não tenho noticias e penso no mar, saudades do mar quando já não há multidão nem gritos nem obrigação de se ir porque é Verão. Esmago a ponta do cigarro na palavra atafulhada pela correria presa dos tornozelos na areia solta e é tudo meu, o ar tão salgado que a língua a dizer AH na boca muito aberta e a passar na pele dos lábios esticados sente o ardor da felicidade de tudo ter deixado de pensar, só mar e imensidão e pulos e rodas com as mãos a enterrarem-se perto da água onde esta morre devagarinho na areia escura e cabelos que tapam olhos e tonturas por não se saber onde é o chão e o céu e caír, caír e sentir deitada girar de braços abertos enquanto o mar gela a pele arrepiada de já não ser tempo de Estios. Bebo um gole de café instantâneo mas só acho um círculo castanho e seco no fundo da chávena.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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