Fechada a noite, encostadas as cortinas, à espera do sossego e do peso dos olhos para o embarque nalgumas horas sem importância de mundos, gostava de sentir a luz difusa e amarelada da rua em contraste com a escuridão no quarto. Por isso, deixava sempre um pequeno espaço entre os cortinados, para que o feixe luminoso embebesse como um ladrão em silêncio para não ser apanhado e lhe molhasse a cama, a almofada, o queixo. Atravessava-lhe o cómodo pela diagonal, uma espécie de seta sem ponta, o final a cravar-se no canto da parede, sem entrada de ferida ou sangue a traír a paixão, já lhe tinha tocado ao de leve, frio, seguira o rasto até à janela e ficara de braço esticado, uma Lua imensa e gorda. Só nesse dia. Nunca mais se fez perguntas, acomodou-se ao leito, puxou os joelhos ao peito e procurou que a luz lhe acertasse no queixo. Ofereceu-se. Um pouco de luz na noite é quanto basta para guiar quando se embarca não se sabe para onde, é uma candeia que aparta o nevoeiro quando se quer regressar.
CAPÍTULO QUARENTA - DE VOLTA A CASA
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Ao fim de pouco mais de três meses Alberto fechou a conta e a familia
regressou à casa renovada.
Maria da Luz apenas tinha ido por uma vez ver o decurso das...
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