Não sei onde está a tua bandeira nem o resto das tuas coisas, não voltei lá, sei que farías exactamente o mesmo que eu, todas as nossas diferenças afinal são a nossa semelhança, talvez essa tivesse sido sempre a grande questão entre nós ou talvez não, se calhar a essência de tudo já vem do Pai e da Mãe que nos fabricaram a acreditar naquilo que somos e no que queremos e na determinação para levar avante. Teimosos d'um raio!
Agora que tenho a oportunidade de te dizer tudo sem que me interrompas gaguejam-me as palavras, não porque não as saiba dizer ou porque hesite no modo mas simplesmente porque o desejo de te ouvir a cortar-me o discurso dói-me a voz e aleija-me a vontade de seguir. Saudades de ti, tantas saudades de te ouvir a cantar, a fazer aquele barulho infernal nas gargalhadas que enchiam espaços... Sonho pouco contigo.
E do pouco que sonho nunca falas comigo, sorris muito e até entendo o que me dizes mas o som da tua voz não atinge, lembro-me dele distintamente, vejo a tua boca a cantar Iron Maiden mas não a escuto. Como os teus dedos a dedilhar a guitarra e os cabelos louros e o bigode arruivado, tudo tão presente e no entanto, tão longínquo, que mal estico o meu braço para te tocar desperto e recordo como uma seringa a injectar-me as palavras do Padre, Ai minha Mãe...
Passou depressa um ano.
Às vezes, acho que te vejo na rua a dobrar uma esquina naquele nosso passo apressado e largo que toda a gente tem a mania de dizer que é igual e deixo-me enganar porque quero, porque preciso de me confortar. Ai minha Mãe...
Um beijo, António José
1 comentário:
belo momento, tão íntimo...
um beijo
marisa
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