Deixem-me.
Não me digam nada nem façam barulho. Deixem-me. Deixem-me ter pena de mim e tentar puxar este choro que não vem, talvez se tenha afundado no Rio de tanto que falo dele, mais dele do que qualquer outra coisa, pode parecer que não sinto nada e que me diluo em água para não me perder nos olhares perdidos. Hoje perco-me eu, quero, preciso de ser tão frágil hoje que nada me fará levantar a vontade de animar outros a não ser a mim, de me dizer que hoje não preciso de ser forte, porque hoje quero que me deixem e quero apenas sentir saudades e chorar essas saudades que tenho a roer por dentro e finjo que são de outros para não me pôr a chorar à frente de outros.
Deixem-me suspirar. E soluçar também.
Sentir abandonar-me como se não houvesse chão e tudo se perdesse abaixo de mim como um desmaio da alma e um colapso da vontade, uma queda mole e desamparada em que nada mais importa. Deixem-me ir e eu a ir. Nem que seja por um vértice de um segundo, parada, na sensação de uma tontura, no piscar de uns olhos que olham os meus, parados.
Deixem-me.
Não haver mãos que segurem as minhas e nem as minhas terem a força do querer, apenas a concha para aparar esta torrente que quero chorar e em pedras, apenas pedras de sal me queimam a garganta.
Deixem lá, eu gostava que bastando eu pedir, conseguiria.
Mas só me vejo encolhida no ventre de minha mãe.
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