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sábado, 10 de agosto de 2013

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Enquanto as cigarras esfregam as asas e tenta ajeitar o corpo às costas que doem na cadeira mais dura que o pensar, o sono estala-lhe os dedos cortando o circuito à realidade, não há olhos fechados mas não há vista que atinja o redor, está assim numa bolha gelatinosa que a ampara nos movimentos de oscilação lenta, um leve ruído é uma explosão, o roçar do gato é o abraço de um homem.
Agora nada importa.
A seu lado o condor, a águia, o açor, cordilheiras onde já voou de mil passagens e quer sentir a frescura de se projectar lançada a pique em cada gruta que do alto achar, há vermelho, verde, tanto verde que a faz sorrir, ouve o seu nome mas não quer saber, não quer responder, não a chamem que o verde é mais intenso e nada é tão belo como o que está a ver, tantas folhas verdes no rosto, fecha os olhos.
Branco. Onde está? Conhece isto, onde está, como veio aqui parar, ainda agora estava numa floresta, numa gruta, voava... e ela... conhece-a... não faças isso! Não abras a janela, não saltes, eu sei o que vai acontecer e como é que vais ficar, não saltes por favor! Estas paredes brancas são o teu quarto e não há aqui ninguém atrás de ti, só eu, não me vês? Eu não quero ver! Quero sair daqui, como é que se sai daqui, eu estou a sonhar! Alguém me acorde, por favor! Alguém chame o meu nome para eu responder e não ver ela a saltar! Não saltes, não saltes!!!
Ela saltou e o condor voou num círculo largo e lento a riscar o céu branco, branco.
Branco. No regaço o gato branco ronronava enquanto o homem baixinho dizia o nome dela.
 
 
 
(à Cristina Maria)

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