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sábado, 31 de agosto de 2013

Alucinações de uma vida paralela (11)



 
É então o grito longo e atroz que sela e inicia o silêncio. O meu. Chegam todos para tomar conta de mim, pegam em mim, erguem-me nos seus braços, dançam comigo à vez e eu entonteço nos rodopios enquanto penso que há muito tempo que não dançava, fecho os olhos, não quero saber de mais nada porque nada mais importa, nem sequer me lembro se dançar é bom.
O meu mundo tem o tamanho de uma cama kingsize. Não posso saír deste espaço sem correr o risco de perder o lugar de tão cheio que está sempre, muita gente a entrar e a saír, muitos que já não vía e até pensava que estavam mortos agora aqui regressam e fazem-me companhia. Mas não me ouvem, só falam deles, ininterruptamente debitam palavras que por vezes e a muito custo consigo seguir, quero tomar notas mas não sei escrever, não me lembro como se desenha o meu nome, procuro na memória as primeiras letras e muita gente me ralha.
Há muitos de mim a repetirem as minhas palavras como um coro desafinado. Vão-se destacando, afastando, e à medida das minhas perguntas a saciedade de cada resposta, individualiza-os, fá-los partir deixando-me sózinha.
O vazio que me enche até à garganta é o meu peso total.
 
 

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