Lembrava-se de ter ajeitado a almofada e ter pontapeado a roupa, afastado as pernas na procura de sitio fresco, apertar os olhos na busca do sono que não vinha e só chegava calor. Tanto calor. A ventoinha zunía e cheirava a óleo queimado, cansado, moído de tanta volta sem olear ar nem motor que aguentasse o ritmo do coração contrariado nos ponteiros do relógio ignóbil.
Tic fez a mobilia, tac fez a ventoinha e som algum pesou mais que o calor.
Suspirou, rodou, rolou. Bufou duas, três vezes, abriu os braços e os olhos.
E do tecto do quarto, meigamente, mansa e agradavelmente, pingou uma, duas, várias gotas de água, saborosa, não muito fria que arrepiasse mas como uma bruma suave que refresca e acalma.
Abriu a boca, esticou a lingua, engoliu aquela chuva doce, pingada, quase chorada, infantil e feliz.
Dormiu e sonhou que tinha chovido no seu quarto.
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